Alma Thomas fala da família e do ‘Canta comigo’: “É um frio na barriga”.

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Uma, dos cem jurados do "Canta comigo", em cartaz na Record, Alma Thomas conversou com nossa coluna. A cantora, que levou pra casa o título de campeã, da segunda temporada do "The Four Brasil", também da Record, fala da família e do desafio de encarar o papel de jurada:

Rodrigo - Como surgiu o convite para o júri do "Canta comigo"?

Alma - Foi logo depois que eu venci o "The Four Brasil", uns meses depois, mesmo durante à pandemia, me contrataram. Era a mesma equipe de produção, que fez o "The Four Brasil", e me perguntaram se eu me interessava. Naquela época, eu era a única pessoa do Rio de Janeiro que iria participar, por causa dos protocolos de segurança, que estavam tomando. E eu aceitei. Fiquei lisonjeadíssima, porque eu tinha acabado de ganhar o "The Four Brasil", e de repente virar jurada, é uma super responsabilidade.

Rodrigo - Pra você, que já participou e venceu um reality musical, como é encarar, agora, o papel de jurada? Rola aquele frio na barriga? E qual é o seu critério de jurada? Você é daquelas mais duronas ou se rende logo à emoção?

Alma - Pra mim, que já participei de um reality, e venci, o que até hoje é o maior choque, é difícil realmente encarar um papel de jurada, com toda honestidade. No formato do "The Four Brasil", os jurados fazem opiniões, mas eles não fazem decisões. Lá no "Canta comigo", a gente decide muito os sonhos das pessoas, mesmo que é um júri de 100 pessoas, a gente decide bastante o futuro e os sonhos das pessoas, e eu já sei o que é está naquela posição, inclusive, eu já fiz o "Canta comigo - all stars". Então eu sei exatamente. Estar naquele palco do "Canta comigo", estar de frente para os seus colegas, inclusive, é um frio na barriga. Nada é fácil, quando você está sob pressão. Isso é de fato. Eu realmente acho que é mais difícil ser candidato do que ser jurado. Ser jurado é uma grande responsabilidade. Eu levanto pra maioria dos candidatos, e a equipe também faz um filtro muito grande de vários candidatos do Brasil inteiro, e todo mundo que canta lá, canta super bem. É muito raro alguém subir no palco e cantar mal, mesmo com todos os nervosismos. Às vezes eu fico chocada, intrigada, com alguns dos candidatos, porque eu acho que eles ficam menos nervosos, ou aparentam ser menos nervosos, do que eu era no "The Four Brasil". Eu me considero muito cuidadosa com os sonhos dos outros. Eu não levanto quando sinto que, não é que a pessoa não fez bem, mas que naquele dia, os candidatos eram tão fortes, mais tão fortes, que realmente não estavam à altura dos outros candidatos. Eu não comparo com um, ou outros tipos de artistas, tem que ser julgado aquele momento, aquele show que deram daqueles dois minutos lá no palco, e isso já entra no meu critério como jurada: estou julgando aquele momento da pessoa. A gente não pode julgar a carreira de alguém, e em muitos casos, no "Canta comigo", às vezes as pessoas nem estão trabalhando com canto, estão trabalhando com outros tipos de profissão. Então, isso tem que ser levado em consideração, que diferente da gente que trabalha na indústria de música ao vivo, que antes da pandemia fazia vinte shows por mês, essa pessoa não estava fazendo isso e está se expondo no palco, para demostrar seu talento, que estava escondido. O meu critério, realmente, é emocional. Eu levo em consideração a luta, a história da pessoa, e também o que eles me fazem sentir na hora, e na maioria das vezes, eu fico chorando, mas eu estou sempre junto, quase sempre. Eu não sou uma das duronas, eu acho que desde o "Canta comigo teen", já foi evidente que eu sou uma das mais emotivas, e inclusive luto e brigo, quando acho que uma injustiça foi feita.

Rodrigo - O formato do programa, é único, são cem jurados, com cem percepções, gostos e critérios diferente. Como você vê essa dinâmica?

Alma - O formato do programa realmente é único. Cem jurados é algo muito intenso. Cem percepções, critérios e gostos. Eu tento não me comparar com nenhum jurado. Eu discordo de vários. Tem pessoas no júri que eu acho que são extremamente consistentes, nas suas decisões e critérios. Eu acho o "Canta comigo" algo feliz. Vê pessoas realizando seus sonhos, é feliz, e felicidade abre portas. Eu estou vendo do ponto de vista, que cada participante vai abrir uma porta ali, o Brasil inteiro vai vê-los, e a gente não pode controlar quem eles vão contagiar, com emoção. Então eu acho muito importante, que me destaco entre os jurados nesse sentido. Eu tento deixar todos os meus preconceitos de tipo de música, de tipos de pessoas, de tudo. Eu jogo tudo isso fora da janela, e eu fico me esperando emocionar. Acho isso mais importante, inclusive, pra dinâmica do programa. 

Rodrigo - Além do talento e vozes incríveis, cada participante também trás consigo uma história de vida, e de superação com a música. Você se identifica com essas histórias?

Alma - Sim. Cada participante não trás só uma história de superação com a música, mas com a vida, como todos nós. E eu me identifico quase com cada história. Somos todos humanos. O ser humano passa por diversos obstáculos, embora eu seja estrangeira, minha família até hoje passa altas dificuldades, e sempre passou. A gente sabe como é esse sistema mundial da globalização do mundo, do capitalismo. Raramente, uma família sai do seu estado socioeconômico, e minha família não é nada diferente. Sempre foi uma família muito humilde, e continua sendo, mesmo que eles estão em Nova York, o restante da minha família, passa por grandes dificuldades e desafios da vida, eu com minha família aqui, meus filhos, meu marido brasileiro. Os dezessete anos que vou fazer agora em maio, no próximo dia quatorze, morando no Brasil, me faz identificar com cada história. As histórias do Brasil refletem muitas histórias de pessoas que eu conheço aqui no Brasil, pessoas muito próximas. Então fico bem dentro disso, e vendo como cada pessoa coloca sua história dentro da música. Porque na verdade, música é uma forma muito elegante, mais elegante do que até falando, de colocar sua história em primeiro plano, e conectar com as pessoas, não necessariamente usando palavras, mas uma música, uma poesia, que pode te trazer mais pessoas para sua emoção, porque acho que música é emoção. Esse é o meu maior critério, que a superação aconteça através da música, e amplia o seu público.

Rodrigo - Qual é sua história com a música? Como e quando nasceu essa vontade de viver do canto?

Alma - A minha história com a música é muito grande na verdade. Eu comecei a cantar e brincar quando era bem novinha, com mais ou menos dois anos, mas eu comecei tocar violino clássico com cinco anos. Minha mãe lutou muito para eu poder ter um vilonino, que era bem caro, fora do nosso alcance. Ela conseguiu aula de graça pra mim, mas eu já pedia desde os dois anos, e com sete anos eu entrei num coral de música clássica de uma igreja americana, e eu fiquei até os meus dezessete, quando fui pra faculdade. Ali foi minha casa. Toda minha educação musical foi de graça, através de programa social ou a igreja, e isso mudou minha vida. Eu sou musicista até hoje, e não consigo pensar em fazer mais nada.

Rodrigo - Seu nome, Alma, aliás, muito bonito, foi escolhido por algum motivo em especial?

Alma - Sim, foi escolhido por um motivo muito especial. Era o nome da minha bisavó, avó do meu pai, que nasceu na escravidão dos Estados Unidos.

Rodrigo - Você não esconde de ninguém, o carinho que tem pela Nina Simone. Ela te inspirou, e inspira, quanto cantora?

Alma - Eu não escondo de ninguém mesmo, que acho Nina Simone muito importante. Ela me inspira, não só como cantora, mas principalmente como comunicadora. Eu acho isso muito importante pro artista, que sabe comunicar suas ideias para qualquer pessoa. Não importa nivel de escolaridade. Música sempre foi uma expressão de protesto, mesmo se ela não era um protesto violento, ela sempre foi feita pra expressar algo que estava acontecendo, e a Nina, com muito sucesso no anos setenta, exatamente em setenta e quatro, o disco que ela lançou, foi um divisor de águas na carreira dela, e ela fez uma decisão muito direta, de virar ativista através de música, e eu acho isso muito arriscado, claro, nos termos humanitários, no público que ela já tinha conquistado com grande sucesso, e ela sabia que iria perder parte disso, que isso iria afetar a vida dela, e mesmo assim, ela fez. Eu acho isso muito inspirador, se colocar nessa posição e acreditar nisso. 

Rodrigo - Sua vida é meio corrida, você fica entre Brasil e Estados Unidos? Como tem sido sua rotina em meio à pandemia? E como foi gravar o programa dentro de todos os protocolos de saúde?

Alma - Minha vida é meio corrida. Eu não fico entre Brasil e Estados Unidos. Na verdade eu fico no Brasil, 99,9% do tempo. Eu visito os Estados Unidos um vez por ano, às vezes uma vez, a cada dois anos. Porque minha mãe, meu irmão, estão lá com o resto da minha família. No meio da pandemia, eu visitei, em dezembro do ano passado, minha família. Minha mãe tinha ficado doze meses sozinha, totalmente isolada, e foi muito importante para os meus filhos, para mim, para o Pedro, meu marido, a gente estar com ela durante o natal, porque você imagina uma pessoa ficar isolada doze meses, e minha mãe teve Covid-19 em outubro do ano passado. Ela ficar totalmente sozinha foi muito difícil, eu sei. Então a gente achou muito necessário estar com ela. Ficamos um mês lá, e eu estou indo pra lá, daqui sete dias, porque ela fará uma cirurgia, e irei ficar lá, para cuidar dela durante a recuperação. O programa, dentro de todos os protocolos de saúde, realmente tem sido extremamente difícil. Eu, por conta dessa viagem sabendo que estarei com minha mãe, tenho que estar saudável, tenho procurado me isolar o máximo. Eu amo meus colegas, no programa, mas só converso com Beto Guedes, André Marinho, que sentam do meu lado, Robson, que está na minha frente, Penelopy Jean, Dr. Reinaldo, que está em cima de mim. A gente acaba conversando só entre nós, e mesmo assim bem isolados, porque a gente tem acrílico em cima da nossa cabeça, nas nossas laterais, na frente. A gente está bem quarentenado um do outro. Então, não conseguimos interagir como era antes, o formato do programa. Mas todo mundo conseguiu, com total saúde, cumprindo todos os decretos, até teve atraso nas gravações, mas conseguimos, graças a Deus, concluir. 


Rodrigo - Quais são seus projetos para depois da pandemia? Já tem algo em mente, algum álbum ou música nova?

Alma - Eu tenho um single, que vai sair no dia quatorze de maio, que é meu aniversário aqui no Brasil, de dezessete anos, e também está saindo daqui uns seis dias, uma releitura da música "Crazzy", que é uma música que gravei para a vivo, para uma campanha de 2018 deles, chamada "Repense". Era um comercial super bem recebido, porque ele falava sobre nossas diferenças, e que a gente tem que transcender as nossas diferenças, aceitar tudo, entender que cada um tem sua história, e isso abriu muitas portas pra mim. Eu fiz essa campanha, bem antes do "The Four Brasil", regravei ela com uma banda antiga minha, e foi bem bacana, então decidimos lançar no meu aniversário aqui no Brasil, durante a pandemia, porque achamos que o tema da música, a loucura que a gente está vivendo, era um momento adequado. Estou gravando vários projetos na verdade. Estou fazendo um projeto com o Victor Mota, que foi um dos participantes do "The Four Brasil", e estamos no processo de desenvolver este projeto em conjunto, com nossas composições, e a gente está muito feliz com isso, e também estou trabalhando em muita música nova, um disco novo, que eu vou está produzindo com o meu marido, Pedro 


Rodrigo - E o que mais você tem feito neste período de isolamento social? 

Alma - Bem, eu tenho cuidado muito das minhas plantas, dos meus filhos. Eu virei professora remota, mas graças a Deus, eles voltarão para às aulas presenciais, só essa semana. Essa foi a primeira semana da volta presencial aqui no Rio de Janeiro. Eles estão muito felizes. Eu tenho procurado me melhorar, pra ser sincera, buscando muito o interior. Essa parceria com o Victor Mota, vem muito disso, manter uma amizade, depois de um ano de reality, com quem você estava concorrendo, na mesma competição, é realmente difícil, nós músicos, estar competindo um com o outro, porque todo mundo se admira, tempo de desenvolver amizades. A pandemia foi um filtro, a gente aprendeu com quem a gente não vive sem, e com quem a gente pode viver sem. Estar em casa é sempre positivo, fez a rede da nossa família mais forte, eu e meu marido, eu com meus filhos. Eu viajava muito antes do "The Four Brasil", e isso é tão bonito, poder vê eles crescendo. Eles estão numa fase muito linda, de doze e dez anos, e pra mim foi um privilégio estar em casa, segura, e não enfrentado as grandes tristezas que 99, 9% que o Brasil está enfrentando, e o mundo, inclusive. Eu ganhar o "The Four Brasil" foi praticamente a minha sobrevivência durante esse período de um ano, e poder ajudar minha mãe, e não sabendo que iria durar tanto tempo, e poder focar em não preucupar tanto, claro que a gente preucupa, no lado psicológico, como isso vai afetar meus filhos no futuro, principalmente, porque eu já não sou novinha, eu ganhei um reality com trinta e seis anos de idade, que normalmente é uma raridade, normalmente é uma pessoa mais jovem. Achei isso bacana, mas foi inesperado pra mim, porque eu não sou aquele perfil, que normalmente ganha esses programas, só tenho à agradecer ao senhor, em primeiro lugar, meu marido, e o fato de ser quem eu sou. Já falei isso nas redes, e continuo falando, quando você sabe quem você é, da onde você vem, sua verdade, você ganha força, é uma força interna que eu nem posso descrever, ela vem de repente. Mas cada ano da vida, você lembra, sabe, as nossas experiências, ela fortalece a gente. É só acreditar em si mesmo e na sua verdade, e ter esse chão, com minha família, e saber o quantos eles são importantes pra mim. Aí você se sente capaz de qualquer coisa, e isso que é muito importante, eu sei que até é, parece, uma platitude, mas é verdadeiro, e por isso que é verdadeiramente difícil de conquistar, mas para conquistar isso você precisa estar aberto, vulnerável, e o público, eu acho que sente e sentiu isso no "The Four Brasil", e sou mais do que grata. 





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